terça-feira, 18 de agosto de 2009

Rivalidade deixa 2 mortos em show

Hudson Monteiro era amigo da vítima e estava no local na hora do crimeHudson Monteiro era amigo da vítima e estava no local na hora do crime
Dois homicídios foram registrados pela polícia após um show promovido por uma torcida organizada do ABC e realizado no estacionamento do estádio Maria Lamas Farache, o Frasqueirão. Um dos crimes teve motivação pela rivalidade de torcidas organizadas e o outro, segundo familiares da vítima, foi rixa por outro motivo. Paul Mackartiney Vieira Tavares, 22, foi assassinado quando esperava um ônibus juntamente com outros torcedores da Gang Alvinegra, na avenida Engenheiro Roberto Freire, após o show. Ele estava com um grupo de aproximadamente dez pessoas que foram abordadas por três homens que estavam em um Celta prata e chegaram a mencionar a torcida Máfia Vermelha. De acordo com testemunhas, os criminosos estavam todos armados e mandaram as pessoas ficarem paradas e colocar as mãos na cabeça. Nesse momento, todos correram, mas Paul não conseguiu escapar e foi executado com três tiros na cabeça. Ontem, durante o velório de Paul, um dos amigos que estava com ele deu algumas informações do que aconteceu. Segundo Hudson Ribeiro, eram três homens em um Celta 4 portas de cor cinza. “Já tinham falado pra gente que uns caras nesse carro estavam rodando naqueles lados do Frasqueirão”, disse. Hudson lembra que os homens pararam o carro em uma rua estreita e foram, todos armados, a pé em direção ao pessoal. “Depois que eles atiraram no Paul, eles gritaram: ‘É a máfia! É isso mesmo’ e foram embora”, recorda. O sobrevivente lembra que outra pessoa que estava na turma, um rapaz por nome Everton, foi ferido. “Ele levou um tiro na perna e foi atropelado. Como ele é fuzileiro naval, está no hospital da Marinha”, informou. O corpo de Paul foi velado na Igreja Adventista do 7º Dia, que não permitiu a entrada da imprensa. O pai dele, Pompeu Tavares, chegou a declarar que havia aconselhado ao filho a se afastar da torcida organizada. Abatido com a morte de seu filho mais velho, ele lembra que a família pediu que Paul não saísse no sábado à noite. “É uma dor muito grande. Quem fez isso não tirou só a vida dele. Tirou a minha e a da mãe dele”, declarou. O jovem de 22 anos é apontado pelos amigos como uma pessoa trabalhadora e que não se envolvia em briga. “É lamentável isso ter acontecido. Nós saímos para uma festa para nos divertirmos e acabamos perdendo um amigo”, destaca Hudson. O outro assassinato ocorreu na saída do Frasqueirão e vitimou o auxiliar de cozinha Cosme Wandauberto de Carvalho Silva, 24. Os familiares de Cosme foram categóricos ao afirmar que ele morreu por uma rixa antiga. Um primo dele, que não quis se identificar, revelou que todos já sabem quem matou Cosme e, inclusive, algumas pessoas viram ele cometer o crime. De acordo com o primo, ele mesmo já está ameaçado de morte pelo acusado. “Há dois anos e três meses ele matou meu irmão”, afirmou. O acusado foi identificado como Josean e é conhecido como “Sardinha”. Segundo a família, Cosme era fã da banda Facção Central que estava se apresentando na festa da Gang Alvinegra. O primo da vítima revelou que o acusado do crime entrou na festa armado e chegou a mostrar a pistola durante o evento. “A morte do meu primo não teve nada a ver com a do outro rapaz não, nem com briga de torcida, foi vingança mesmo”, afirmou. Os dois casos serão investigados pelo 15º Distrito Policial, em Ponta Negra. Promotor quer investigação de quadrilhas de torcedores “Está muito claro que alguns integrantes de torcidas (organizadas) são quadrilhas e precisam ser investigados dessa maneira”. A definição do promotor de Justiça Fernando Vasconcelos é reflexo da violência entre torcidas organizadas da capital e que na madrugada de domingo fez mais uma vítima: Paul Mackartiney Vieira Tavares, 24, executado a tiros quando saiu de uma festa com amigos, no estádio Frasqueirão.
Adriano AbreuEsse não é o primeiro crime por causa de rivalidade de gruposEsse não é o primeiro crime por causa de rivalidade de grupos
Integrante da comissão formada pelo Ministério Público Estadual (MPE) para Implementação do Estatuto do Torcedor, o promotor afirma que a rivalidade entre esses supostos torcedores “extrapola a questão esportiva”. “Crimes como esse, têm que ser esclarecidos”, cobrou. Ele baseia seu argumento de que as torcidas são quadrilhas, pois “são organizados para cometer crimes”. “Eles (integrantes de torcidas) devem ser investigados como formação de quadrilha”, declarou. Fernando Vasconcelos comenta que “a origem pode ser a rivalidade (entre os clubes), mas a coisa está numa dimensão muito maior”. Ainda de acordo com o promotor, essas questões vão além do próprio Estatuto do Torcedor. “É preciso aplicar o Código Penal”, sugere. Pensando nisso, o membro do MPE defende que sejam feitas investigações “com base na formação de quadrilha” e sugere um trabalho da inteligência da polícia para identificar os possíveis líderes e também os autores dos crimes. “O grande motor (para a violência) é a impunidade”, denuncia. Questionado se acha valido as reuniões entre MPE, Polícia Militar e integrantes de torcidas organizadas para definir estratégias antes dos jogos, o promotor explicou que “para eventos esportivos é importante o diálogo”. Além disso, Fernando Vasconcelos informou que torcida organizada não é citada no Estatuto do Torcedor. Contudo, ele ressaltou que “é uma característica de associação civil e isso está no código civil”. “Mas não pode ter fins ilícitos”, acrescentou. O comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Francisco Canindé Araújo Silva, explicou que as reuniões que antecedem alguns jogos são realizadas com o MPE e os líderes de torcidas organizadas com objetivo de disciplinar a conduta das torcidas antes, durante e depois dos jogos para que possíveis confrontos ocorram. Comando inicia contatos com a polícia cearense Preocupado com o risco de uma possível vingança, o Comando do Policiamento Metropolitano iniciou ontem os contatos com a Polícia cearense e integrantes da torcida organizada “Cearamor”, cujos integrantes têm afinidade com membros da Garra Alvinegra, do ABC, e devem acompanhar o Ceará na partida diante do América, no sábado, válida pela série B. Além disso, representantes da Polícia Militar e do Ministério Público Estadual se reúnem amanhã com líderes das torcidas organizadas de ABC e América com o objetivo de traçar o ajuste de conduta dos torcedores para o jogo de sábado. A torcida alvinegra foi chamada por possuir ligações com a torcida do Ceará. O objetivo é saber os horários de chegada e o local de concentração dos torcedores cearenses para realizar o patrulhamento. O comandante revelou que “existe o risco” de um possível confronto e por isso “essas medidas preventivas serão tomadas”. A intenção é que o trabalho preventivo comece desde a fronteira do Rio Grande do Norte até o estádio Machadão. Além disso, páginas na internet de sites de relacionamento serão mapeadas e monitoradas pela polícia com objetivo de descobrir possíveis emboscadas ou que brigas sejam marcadas por essa mídia eletrônica. Rivalidade de grupos já ocasionou outras mortes Em junho do ano passado, a rivalidade entre supostos integrantes de torcidas organizadas de Ceará e América resultou em outra morte. O torcedor do América Jeferson Gabriel da Silva, 17, foi morto a tiros quando dois ônibus, com cerca de 100 torcedores, voltavam na madrugada de 14 de junho para Natal e foram interceptados por um veículo Gol, na rodovia estadual CE-040, entre as cidades de Aquiraz e Pindoretama. O grupo teria atirado nos pneus dos ônibus. Quando os torcedores desceram para para tomar conhecimento da situação, foram recebidos com disparos de arma de fogo. A vítima atingida foi encaminhada pelo Samu ao Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza, mas não resistiu aos ferimentos e veio a falecer. Os outros torcedores que estavam nos ônibus retornaram para Natal, escoltados por viaturas do Comando de Policiamento Rodoviário (CPRV). O comboio teria recebido proteção policial somente durante na parte inicial do percurso de volta ao Rio Grande do Norte.

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