sábado, 24 de outubro de 2009


Depoimento agrava situação de PMs


Rio (AE) - O coordenador de percussão do AfroReggae, Anderson Elias dos Santos, o Dada, uma das primeiras pessoas a chegar ao local onde o coordenador de projetos sociais da entidade, Evandro João da Silva, foi baleado durante assalto, no centro do Rio, disse que o coração ainda batia, 50 minutos depois de a vítima ter sido atingida, na madrugada de domingo passado. “Coloquei a mão no peito dele e o coração estava batendo. O policial falou que era normal o coração continuar batendo”, disse Dada.

O cardiologista Carlos Scherr disse que o coração pode continuar batendo minutos depois da morte em um ritmo irregular, com contrações esporádicas que não nutrem mais todos os órgãos, ou, no caso de morte cerebral, quando continua a bater normalmente. “Um leigo pode conseguir diagnosticar isso, se tiver feito o curso de BLS (verificação de sinais vitais, na sigla, em inglês)”, disse ele.

Dada disse que estava em casa quando recebeu um telefonema dizendo que o amigo tinha sido baleado. Ele chegou na esquina da Rua do Carmo com a Rua do Ouvidor quando o corpo de Evandro ainda estava no chão. “Ele não se mexia mais. Segurei a cabeça dele e coloquei a mão no peito. Não procurei outro sinal vital porque era um momento muito delicado”, contou ele ontem, no Quartel-General da Polícia Militar.

Havia no local dois PMs, ainda não identificados. “Não sei se já tinham verificado (os sinais vitais), mas só saí de lá depois de o corpo ter sido recolhido e em nenhum momento chegou uma ambulância ou qualquer outro tipo de socorro”, afirmou o percussionista, que disse ter se sentido impotente diante da situação. “Foi uma sensação de total incapacidade, por não ter conseguido salvar o meu amigo que lutava justamente para que essas coisas não acontecessem.”

O comandante da PM, Mario Sergio Duarte, afirmou que todos os policiais recebem curso de verificação de sinais vitais. Segundo o coronel, esses dois policiais também serão investigados pelo Inquérito Policial Militar que apura os desvios de conduta e crimes cometidos pelo capitão Dennys Leonard Nogueira Bizarro e pelo cabo Marcos de Oliveira Salles, que abordaram e liberaram os assaltantes que atiraram em Evandro, não o socorreram e pegaram objetos roubados da vítima. “Eles deveriam ter verificado os sinais vitais. Temos de particularizar cada situação, mas todos os PMs envolvidos serão inquiridos. Sabemos que pelo menos mais duas guarnições estiveram no local”, disse Duarte, sem precisar o número exato de PMs investigados.

Governador exonera porta-voz da PM

Rio (AE) - O governador Sérgio Cabral (PMDB) exonerou o chefe do Setor de Relações Públicas da Polícia Militar, major Oderlei Santos Alves de Sousa. Para Cabral, ele se comportou como “advogado” dos PMs que não socorreram o coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva, assassinado na madrugada de domingo após um assalto. Eles também roubaram os pertences de Evandro, que os ladrões haviam levado. 

“Ele não se comportou como porta-voz da instituição. Ele se comportou como advogado de defesa dos policiais. Isso eu não admito. Há registros contundentes de um mal comportamento de um capitão. Ele não merece ser porta-voz da instituição Polícia Militar”, disse Cabral, ontem de manhã, depois de participar de evento na Federação de Comércio. Sousa havia dito ontem que o capitão Denis Leonard Nogueira Bizarro e o cabo Marcos de Oliveira Salles não podiam “ser chamados de criminosos” e se referiu ao episódio como “desvio de conduta”.

Uma declaração do coordenador executivo do AfroReggae, José Júnior, provocou constrangimento ontem, em um encontro com o comandante-geral, Mario Sergio Duarte. “Recebi e-mails de PMs dizendo que estão com vergonha da farda, mas eles não têm nada a ver com esses marginais fardados”, disse Júnior. À imprensa, Duarte contestou. “Não havia necessidade (da fala), tomei isso como ofensa à corporação.”

A pedido do Ministério Público Militar, a Justiça Militar determinou ontem a prisão preventiva do capitão e do cabo. Eles estão presos administrativamente, mas seriam soltos ainda hoje. O titular da 1ª Delegacia de Polícia, José Luiz Silva Duarte, disse que não vai chamar os PMs novamente para depor. A polícia recebeu oito denúncias contra os assaltantes, mas, até as 20 horas, eles ainda não haviam sido capturados. 

Quarenta e duas pessoas morreram em confrontos

Rio (AE) - A caçada policial aos traficantes acusados de derrubar o helicóptero da Polícia Militar no dia 17 chegou ao asfalto e aterrorizou os moradores do bairro da Penha, na zona norte do Rio, onde um apartamento pegou fogo após ser atingido por uma bala perdida e fechou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que funciona em um parque. Ontem, seis corpos foram encontrados na favela do Fumacê, em Realengo (zona oeste), aumentando para 42 o número de mortos no Rio desde o início dos confrontos, há uma semana. Quatro estavam em uma lixeira e dois na rua. Até o início da noite, a polícia não tinha informações sobre o motivo do crime.

Na Vila Cruzeiro, 180 policiais do 16º Batalhão de PM foram recebidos a tiros. Três pessoas ficaram feridas por balas perdidas. Expedito José Rodrigues, de 57 anos, foi baleado na perna, e o veterano da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Brunio de Barros, de 86, ferido de raspão no tórax. Os dois não correm risco de morte, mas o estado de Severino Marcolino dos Santos, de 51, é grave. Ele foi baleado no rosto.

À tarde, o tiroteio continuou. Moradora do apartamento 403 de um prédio na Rua São Camilo - cuja janela da sala tem vista para Vila Cruzeiro localizada a 500 metros - a aposentada Maria José da Costa, de 50 anos, se escondia na cozinha quando foi surpreendida com a explosão da TV na sala.

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